Donald Trump já foi dono de time de futebol americano. E destruiu uma liga
De acordo com publicação do site - http://extratime.uol.com.br/ - Donald Trump o novo presidente dos Estados Unidos , já se aventurou como gestor esportivo. O ex candidato republicano acabou conquistando uma boa parte do eleitorado com seu discurso cheio de frases fortes e a promessa de representar algo novo em um sistema falido, levando a maioria dos votos em estados importantes, o suficiente para atingir a maioria no colégio eleitoral. Na sua vida de empresário, seus principais negócios foram no setor imobiliário, mas ele já colocou seu dinheiro em diversas áreas. Até no futebol americano.
Contamos essa história em abril, quando Trump ainda disputava com Ted Cruz e John Kasich o direito de ser o candidato do Partido Republicano. Mas sua vitória nesta terça servem de bom motivo para relembrarmos desse caso. Veja:
Trump usa a mídia, vira protagonista e implode o sistema. Não é política, era o futebol americano
É mais fácil vencer jogando em casa, e Donald Trump sabia disso. Assim como Ted Cruz foi o vitorioso no Texas e John Kasich em Ohio, o milionário nova-iorquino tomou conta das primárias republicanas em Nova York, conquistando 60,4% dos votos e ficando ainda mais perto da indicação do partido para a eleição presidencial do fim do ano. Um cenário que causa angústia no comando da legenda, que não se vê no discurso do extravagante empresário. Os analistas mais exaltados até visualizam um racha no Partido Republicano.
Não é uma possibilidade inédita para Trump. Há 30 anos, o milionário usou seu discurso sempre exagerado para tomar conta da mídia, conquistar aliados e rachar um grupo. Não foi na política, nem em uma versão ancestral de “O Aprendiz”. Foi no futebol americano.
Nos Estados Unidos, ligas esportivas são negócios. A estrutura que coloca a federação como uma espécie de instituição guardiã e legitimadora de competições é fraca. Pessoas podem formar empresas cujo negócio é participar de eventos. Essas empresas podem se juntar para criar uma competição. E aí elas criam seus regulamentos internos para os membros (por isso são “franquias”. São partes de um negócio maior) e até adaptam os do jogo em si se acharem necessário.
Atualmente, NFL, MLB, NBA e NHL são as ligas dominantes de suas modalidades. Elas já têm tradição e dinheiro, e seus clubes conquistaram torcedores a ponto de permitir que todo o negócio gire, mantendo essas competições como as principais do país. Mas nada impede um grupo de empresários de criar novos certames e até ter aspiração a tomar o lugar da concorrente. E, de fato, isso já aconteceu algumas vezes. Uma das mais recentes foi a United States Football League, liga formada nos anos 80 para servir de alternativa à NFL.
A maior parte das ligas alternativas busca cidades que não têm franquias nas grandes, conquistando torcedores sem enfrentar concorrência. A USFL fez diferente: a estratégia era preencher o vazio existencial dos torcedores durante o longo recesso da NFL e da NCAA, realizando seus jogos durante a primavera e o verão, quando a única concorrência por atenção de público e mídia seria a MLB (a NBA ainda era uma liga cambaleante e a NHL tinha alcance regional).
David Dixon, um empresário de Nova Orleans, era o cérebro da liga. Ele conseguiu acordos para formar times em 12 dos principais mercados de TV dos Estados Unidos. Nove dessas cidades tinham franquias na NFL, mas isso não era um problema. Com temporadas que não se cruzavam, uma pessoa podia torcer pelas duas equipes de sua região. ABC e ESPN compraram os direitos de transmissão.
Para chamar a atenção do público, a USFL tomou várias atitudes ousadas. Os clubes não tinham medo de fazer ofertas vultosas para os jogadores, convencendo vários a desistirem da NFL para ganhar mais na nova liga e as partidas tinham regras ligeiramente diferentes, como a implementação da conversão de dois pontos após o touchdown e o uso de replay para revisar decisões da arbitragem. Além disso, a direção incentivava um comportamento mais livre e descontraído dos jogadores, sobretudo nas celebrações de TD.
A primeira temporada foi apenas regular do ponto de vista econômico, com dificuldade para atrair público em algumas cidades. Uma das ideias da liga era ter empresários fortes no comando das franquias das regiões de Los Angeles e Nova York, as duas maiores dos EUA. Assim, Donald Trump comprou o New Jersey Generals.
A chegada do milionário – então com 37 anos – teve impacto imediato para a USFL. Desbocado e conhecido do público, fez a mídia prestar atenção na concorrente da NFL. Os donos das outras franquias gostaram da ideia e se aproximaram de Trump, que rapidamente se tornou um dos líderes políticos na liga. Impulsivo, o empresário começou a impor sua opinião e sua agenda na liga.
Havia apenas uma força para competir com Trump: John Bassett. O dono do Tampa Bay Bandits comandava uma equipe de sucesso em campo e era um dos mentores da USFL. Sua postura era muito diferente da adotada pelo nova-iorquino, buscando projetos de longo prazo e entendendo a lógica particular de se fazer negócio no mundo dos esportes.
Em 1984, Trump liderou uma campanha dentro da liga para mudar a época de disputa da temporada. Ao invés de organizar as partidas durante as férias da NFL, a USFL entraria em choque direto, fazendo seu campeonato simultaneamente à irmã mais velha. Com toda a verborragia que lhe é peculiar, ele criou a frase “Se Deus quisesse futebol americano na primavera, não teria criado o beisebol”. Bassett era o principal opositor da proposta, mas seu câncer estava cada vez mais avançado e ele se viu obrigado a vender os Bandits, perdendo seu papel na liga.
Trump não defendia a mudança da temporada da USFL por acreditar na capacidade da liga de se chocar com a NFL. Sua ideia era incomodar a NFL o suficiente para forçá-la a absorver ou se fundir com a USFL. Como uma das figuras mais conhecidas e endinheiradas da liga menor, a franquia de Trump provavelmente seria uma das preservadas.
Para acelerar o processo, o milionário convenceu a USFL a processar a NFL por práticas que impedissem a concorrência de mercado. O argumento principal é que a NFL incluía em seus acordos com as emissoras de TV uma cláusula proibindo o canal de transmitir outra liga profissional de futebol americano na mesma época do ano. Além disso, a ação antitruste acusava a NFL de impedir que algumas franquias da USFL utilizassem os mesmos estádios da liga maior. Trump e seus colegas pediam indenização de US$ 567 milhões, um valor que saltaria para US$ 1,7 bilhões pela lei antitruste.
A Justiça deu ganho de causa à USFL, mas foi uma das vitórias mais inócuas do esporte. A Corte concordou que a NFL adotava práticas ilegais de monopólio para manter sua condição hegemônica no futebol americano. No entanto, as intenções da USFL para o processo não foram ignoradas. O júri considerou que a liga menor alterou sua estratégia de mercado apenas para forçar a fusão com a NFL, uma decisão que causou prejuízos a suas próprias franquias, e citou Trump como responsável por liderar essa campanha sabendo que muitas das equipes entrariam em falência. Ou seja, ainda que as táticas predatórias da NFL tenham prejudicado a USFL, sua situação financeira desesperadora se devia exclusivamente a suas próprias escolhas.
Com isso, a Justiça determinou uma indenização de US$ 1, que triplicou como previa a lei antitruste. O cheque de três dólares nunca foi descontado e a USFL fechou as portas antes mesmo de iniciar sua primeira temporada simultânea com a NFL. Tudo porque deixou de lado seus princípios e foi para o confronto, o choque.
Isso foi em 1986. Trinta anos depois, Trump adota uma postura parecida na sua corrida à Casa Branca. Dificilmente ele rachará o Partido Republicano, uma instituição muito mais tradicional e sólida que a USFL. Mas a forma como o empresário falastrão sequestrou o debate das primárias lembra o que ocorreu com a liga. E seu discurso sempre imprevisível causa desconfiança em muitos, ainda que soe sedutor para tantos outros.
SOURCE EXTRATIME - UOL
Comentários
Postar um comentário